O futebol, à imagem da maioria (todos?) dos temas, tem as suas modas. Há não muitos anos trás, jogar num sistema que não o 4x3x3 parecia sacrilégio (deixemos Inglaterra de fora, por agora). Na verdade, quando o 4x2x3x1 começou a dar sinais de vida, com Quique Flores como seu paladino principal, foi algo criticado (incluindo aqui) por diversos motivos. Por outro lado, tal como acontecia com o duplo pivô, a defesa a três parecia morta e enterrada, nada mais do que uma reminiscência dos tempos de Beckenbauer. No momento em que o leitor consulta este texto, parece impossível fugir do 4x2x3x1 (ou do 4x4x1x1, praticamente a mesma coisa) ou de alguma versão de uma defesa a três (especialmente em Itália), nos dias que correm - havendo um número muito reduzido de equipas dispostas num genuíno 4x3x3.
O típico 4x2x3x1 |
Segundo uma das frases mais comuns do futebol (com alguma razão), os jogos não se ganham no papel, uma vez que nenhum sistema táctico é inerentemente melhor do que outro - tudo se resume às diferentes dinâmicas colectivas. Embora tal seja verdade, continuo a encontrar algumas brechas no 4x2x3x1.
Antes de mais, é minha convicção de que as equipas dispostas neste sistema táctico tendem a partir-se em dois blocos, nomeadamente os seis "defensores" e os quatro "atacantes". Embora esta seja muito provavelmente a forma mais fácil de implementar funções e instruções numa equipa (permitindo eventualmente que um dos defesas-laterais se adiante, por exemplo), tende a criar dois conjuntos distintos de jogadores dentro de uma mesma equipa, dado que os atacantes se mostram relutantes em recuar e executar as suas tarefas defensivas e os defensores hesitam em abandonar as suas posições, receosos que ninguém forneça a devida compensação em organização defensiva.
4x2x3x1 em organização defensiva |
Num 4x2x3x1, a organização defensiva assemelha-se habitualmente a um 4x4x1x1, uma vez que os extremos estarão supostamente incumbidos de marcar os laterais contrários. Embora a época transacta tenha proporcionado exemplos mais do que suficientes de que este sistema pode revelar-se extremamente eficaz numa abordagem mais reactiva (da vitória do Chelsea na final da Liga dos Campeões à final da Liga Europa, passando pela final da FA Cup ou pela atitude do Sporting de Braga contra os "grandes", entre muitos outros), não é ainda evidente se esta disposição táctica irá ao encontro de uma equipa que pretenda assumir o controlo do encontro. Sempre que um treinador pretende realmente que a sua equipa jogue um tipo de futebol mais pró-activo através deste sistema, o surgimento imediato de algumas brechas é por demais evidente, particularmente porque os quatro "atacantes" têm a tarefa de criar perigo por si só, o que significa que estarão menos dispostos e fisicamente capazes de recuar e formar a segunda linha de quatro homens, conforme solicitado por este sistema.
O típico 4x3x3 |
A partida da última sexta-feira opôs Chelsea e Atlético de Madrid e ofereceu-nos um bom confronto entre estes dois sistemas. Roberto Di Matteo, treinador do Chelsea, está a tentar provar ao seu patrão não só que é o homem certo para o lugar, mas também que o Chelsea é capaz de obter os mesmos resultados jogando o tipo de futebol atractivo que Roman Abramovich quer ver desde que comprou o clube, há dez anos. Face ao típico 4x2x3x1 do Chelsea, Diego Simeone, o treinador do Atlético de Madrid, optou por um claro 4x3x3 e atacou as alas do Chelsea criando constantes situações de superioridade numérica nos flancos graças à excelente colaboração entre os extremos, os defesas-laterais e os médios-interiores. Cientes de que Hazard e Mata não trabalhariam muito defensivamente e que Mikel e Lampard não são propriamente os jogadores mais móveis, os jogadores do Atlético de Madrid encontraram rapidamente muito espaço para desmarcações, expondo as fragilidades de um sistema no qual os (seis e, por vezes, menos) "defensores" dão por si frequentemente desprotegidos à sua frente.
4x3x3 em organização defensiva |
Adicionalmente, o 4x3x3 oferece uma linha de defesa adicional. Ao invés de duas linhas de quatro jogadores (e dois atacantes mais adiantados), este sistema permite que o pivô defensivo execute a denominada "função Makelele", designação inspirada no homem que actuava à frente da defesa e impedia que a bola fosse jogada entre linhas. O Atlético Madrid preencheu o centro do terreno e tentou vencer a batalha a meio-campo. Sabendo que os extremos do Chelsea não constituiriam qualquer tipo de ameaça nas zonas exteriores e tenderiam a flectir para dentro, o triângulo de Simeone a meio-campo recuperou inúmeras bolas (e lançou rápidos contra-ataques) graças à mera existência de um número superior de linhas de defesa, ao contrário do que acontece habitualmente com o 4x2x3x1.
Reforçamos mais uma vez que que não se trata de afirmar que um sistema é melhor do que outro. Na verdade, o objectivo deste texto passa precisamente por questionar e estimular um debate sobre os motivos que levam a maioria dos treinadores a optarem pela mesma formação, especialmente quando muitos deles jogaram em diferentes sistemas - sejam eles o 4x3x3 ou qualquer outro sistema táctico. Embora este blogue esteja ciente de que muitas das concepções consideradas ultrapassadas estão a ressurgir, seria interessante descobrir com exactidão por que motivo tal acontece - trata-se apenas da moda mais recente ou será que a maioria dos treinadores descobriu simultaneamente que o 4x2x3x1 era a melhor (e única) opção?
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