Equipas e movimentações iniciais |
Não é fácil ficarmos satisfeitos, muito menos felizes, após uma derrota. Independentemente dos esforços envidados, subsiste uma distinta sensação de que algo falhou. Por outro lado, Phil Jackson, o antigo treinador da NBA que levou diferentes equipas a 11 títulos, afirmou em tempos que havia derrotas que lançavam as bases de uma equipa - aquelas em que os jogadores tinham dado tudo por tudo e em que tinham aberto mão dos seus egos em nome de algo maior. Para Portugal, o jogo da noite passada foi uma dessas vezes.
Ambos os seleccionadores fizeram uso dos seus onzes preferidos, com uma alteração em cada lado - o ponta-de-lança. Enquanto que a mudança de Paulo Bento foi forçada, devido à lesão de Hélder Postiga, Vicente Del Bosque surpreendeu tudo e todos ao colocar Negredo de início, em vez dos habituais Torres e Fàbregas. Os primeiros minutos permitiram confirmar que o treinador espanhol pretendia um jogador mais rápido na desmarcação, tentando impedir que a defesa portuguese subisse demasiado e comprimisse o espaço entre linhas. Era evidente que a Espanha não estava no jogo para brincar nem disposta a menosprezar Portugal.
Adicionalmente, Del Bosque manteve Xavi numa posição mais avançada do que o habitual - conforme havia feito contra a França. Com esse posicionamento, os campeões do mundo pretendiam impedir que Veloso dispusesse de muito tempo em posse e, numa perspectiva ofensiva, conferir a Xabi Alonso o espaço necessário para os seus habituais passes longos e transformar Xavi numa espécie de n.º 10.
Xavi (amarelo) jogou em zonas mais avançadas durante a maior parte do jogo, tanto a atacar como a defender. |
Embora Portugal não tenha pressionado o mais à frente possível, a selecção lusa tentou (com êxito, na maioria das situações) impedir que o adversário saísse calmamente a jogar a partir de trás e forçar Xavi, Iniesta e Alonso a jogarem de costas para a baliza de Rui Patrício. Com a habitual falta de largura - uma vez que tanto Silva como Iniesta flectem para dentro - e velocidade dos campeões em título, não havia grande perigo de a linha portuguesa mais recuada ser ultrapassada por bolas altas. Com efeito, os comandados de Paulo Bento deixavam muitas vezes Arbeloa à responsabilidade individual de Coentrão, dado que o lateral-direito do Real Madrid não é um defesa particularmente ágil com a bola nos pés. Parecia que o seleccionador português estava a colocar a armadilha para que o lateral espanhol avançasse no terreno, de modo a ser apanhado em contrapé e libertar o espaço para Ronaldo.
Portugal não se limitou a esperar pelo adversário. Pelo contrário, tentou incomodar a primeira fase de construção espanhola. |
Para além disso, Moutinho, Meireles e Nani mostravam-se insuperáveis ao fechar (quase) todas as linhas de passe pelo centro. Ao deixarem Arbeloa para Coentrão, Meireles e Moutinho podiam focar a sua atenção no caminho preferido do adversário e oferecer uma saída de bola para as tiradas de Ronaldo.
A abordagem defensiva de Portugal roçou a perfeição, tanto quanto possível contra um adversário como a Espanha. |
Tal como se esperava, as transições portuguesas tinham frequentemente Hugo Almeida como principal ponto de referência, geralmente no lado do Piqué, com o ponta-de-lança da Figueira da Foz a tentar desposicionar o defesa-central do Barcelona e abrir espaços para Ronaldo, o qual tinha como objectivo evidente aproveitar o espaço entre Piqué e Arbeloa. Embora muitos desses passes longos se tenham transviado, demonstrou à evidência que a Espanha sente grandes dificuldades nos duelos aéreos - não tanto pelos duelos em si, mas por perturbarem o seu bem trabalhado posicionamento defensivo.
A selecção nacional mostrou-se igualmente componente em anular as transições ofensivas espanholas. Moutinho foi fenomenal nesse particular, ao aparecer frequentemente em áreas mais adiantadas para impedir o primeiro passe e, dessa forma, evitar que Xabi Alonso (na maioria dos casos) pudesse escolher o passe mais indicado para os seus companheiros de equipa. Muito embora não exista um gráfico a comprová-lo, esse trabalho quase invisível ofereceu uma segurança acrescida à linha mais recuada da equipa portuguesa. Com isso, Portugal lutava praticamente de igual para igual com a Espanha e a estatística da posse de bola ao intervalo patenteava isso mesmo: Portugal havia tido a bola em seu poder durante 45% do tempo.
Não obstante o reduzido número de oportunidades de golo ao longo de todo o encontro, Portugal e Espanha tiveram ocasiões para matar o jogo. Na verdade, à medida que o jogo se desenrolava, parecia cada vez mais evidente que a equipa que marcasse em primeiro lugar seria a vencedora. Navas entrou para o lugar de Silva aos 60 minutos para tentar esticar o jogo e houve efectivamente algumas jogadas em que essa parecia ser a solução - Coentrão deixaria de poder jogar por dentro e teria de ir ao encontro do extremo espanhol, abrindo um espaço entre o lateral-esquerdo e Bruno Alves. No entanto, a selecção espanhola não pareceu muito interessada em tirar partido dessa via.
Apesar de toda a intensidade, o encontro de ontem não teve muitas oportunidades de golo. |
Apesar da agressividade ofensiva, Portugal necessita claramente de melhorar ao nível da finalização. |
A Espanha dominou todo o prolongamento e poderia até ter alcançado a vitória, caso Rui Patrício não tivesse demonstrado a sua qualidade com defesas de grande qualidade. A selecção nacional pareceu demasiado fatigada para continuar a perseguir a bola e a Espanha continuou a acumular minutos de posse de bola. Com Nani exausto e Nélson Oliveira no lugar de Hugo Almeida, Portugal denotava grandes dificuldades em acertar o primeiro passe após a recuperação da bola, o que, por sua vez, dava lugar a mais posse de bola à Espanha.
Em resumo, assistimos a uma partida muito interessante a todos os níveis, incluindo tacticamente. Mesmo derrotada, os seleccionados portugueses poderão sentir-se reconfortados com o facto de terem sido adversários valorosos desta soberba equipa espanhola e de que actuar a este nível perante a Espanha não está ao alcance de todos. Apesar da derrota, a selecção nacional mostrou que a equipa de Del Bosque não é um obstáculo insuperável e que Portugal tem todo o potencial para se tornar em breve uma potência por direito próprio.
Chalkboards criados através da app Stats Zone, disponível gratuitamente na App Store.
1 comment:
Amigo Vasco, desta feita também quero “meter a foice”
Espanha ganhou…Portugal, não ganhou. Não uso o verbo “perder”, pelo simples motivo de pensar que Portugal podia ter ganho…QUANDO efectivamente o podia fazer. Pese o valor do adversário e de todos os cuidados, que se devem ter contra uma equipa campeã da europa e campeã do mundo, o certo é que o jogo nos ia demonstrando que afinal não estávamos perante um “bicho papão”, antes pelo contrário. A defender bem , com todos os sectores envolvidos nesse processo, os lances ofensivos normalmente eram caracterizados por uma maior carência de unidades , criando uma inferioridade numérica face aos jogadores espanhóis, demasiado limitadora de outras e melhores soluções para chegar com êxito à baliza do adversário. Por outra palavras, atacávamos com poucos jogadores, preocupados com o “esticar da manta”, o que justifica de certa forma o facto de Casillas não ter feito nenhuma defesa.
Sempre senti , desde o jogo com a Alemanha, que a nossa selecção era mais reactiva do que pro activa. Ou então, que o era durante demasiado tempo.
Culpa de Paulo Bento ? Não
O Paulo Bento sempre teve a noção das debilidades da equipa. Muito mais que a falta de um ponta de lança ou de uma ou outra opção lhe ter tirado umas horas de sono, a falta de um banco à altura das circunstâncias deverá ter sido a maior preocupação do seleccionador. Antes ou durante o jogo (qualquer um), tivesse o Paulo Bento o “problema” de em vez de…vai jogar, vai entrar, o Torres, o Llorente, o Navas, o Cazorla o Juan Mata ou então o Fábregas, o Javi Martinez ou mesmo o Negredo, e as coisas seriam substancialmente diferentes. Só para falar do último jogo, pois se nos debruçarmos sobre o plantel alemão, italiano ou mesmo inglês e até holandês, as diferenças continuam gritantes.
Temos o melhor jogador da europa…os outros têm meia dúzia entre os 10, 20 melhores.
Na lista das possibilidades espanholas não coloquei o Pedro, para o referir agora.
Falta de frescura física no prolongamento, ou a diferente dinâmica espanhola depois da entrada de Pedrito aos 87´, e quando Del Bosque já havia injectado sangue novo com as entradas de Fábregas e de Jesús Navas ?
Azar ? Sim
Sorte e azar são componentes do (qualquer?) jogo. Quando a diferença entre ganhar e não ganhar se resume a 2, 3 centímetros ou mesmo à rotação de uma bola que embate no poste, rematada a 1100 cm e entra ou sai…
Satisfeito com a prestação da MINHA selecção neste campeonato da Europa, um pouco frustrado, é certo, com a não presença na final, embora reconhecendo que os jogadores tiveram uma atitude notável e digna dos maiores elogios, e que a estrutura técnica esteve ao mesmo nível, um reparo quero fazer sobre um pormenor, que acabou por ser um “pormaior” !
“ Quando um jogo de futebol se decide pela marcação de grandes penalidades, é extremamente importante saber, antes de sequenciar a lista dos marcadores, que formação vai marcar primeiro. Caso seja o adversário a fazê-lo, NUNCA se deve escolher para último da 1ª série (quinto) o jogador que à priori nos dá maiores garantias…”
Abraço amigo
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